Deixem Jogar o Montenegro: O Goleador da Desfaçatez
Eu acredito que há Luíses para tudo, os que trabalham para o Estado, os que se põe o Estado a trabalhar para eles próprios… E todos temos de aprender uns com os outros neste mundo.
Ah, ser Luís em Portugal é, sem dúvida, uma benção e uma maldição. Afinal, o que seria do nosso país sem os Luíses? Um lugar vazio, sem graça, sem a notoriedade daqueles que, com a sua presença, fazem a diferença ou, ao menos, tentam.
Falo, claro, de todos os Luíses que têm influenciado, ou tentado influenciar, este país. Uns com mais êxito, outros nem tanto. E há aqueles que, por mais que tentem, nunca conseguirão sair da sombra do seu próprio nome. Há um Luís em particular que tem dado tudo de si e que tem sido impedido de exercer o seu talento. É por isso que eu também acho que devíamos todos deixar esse Luís trabalhar. Afinal de contas, todos temos que ganhar dinheiro na vida, seja à conta do estado ou não - alegadamente. Eu acredito que há Luíses para tudo, os que trabalham para o Estado, os que se põe o Estado a trabalhar para eles próprios… E todos temos de aprender uns com os outros neste mundo.
E falando do Luís que me traz aqui, ele faz jus ao seu nome. Ele anda por aí a clamar por trabalho, como se alguém o tivesse amarrado... Ninguém o amarrou mas é como se tivessem feito. Tiveram a desfaçatez de o acusar, vejam lá, de fazer do Estado o seu escritório particular com dossiers especiais feitos à medida para alguns interesses, supostamente. Não podemos dizer que o Luís trabalha mal, mas podemos é aprender com ele e aplaudir o seu mérito, questionando para quem é que ele trabalha bem! Aposto que tínhamos daquelas boas reviews que aparecem nessas coisas. Vou deixar com a vossa imaginação o tipo de elogios…
Mas antes de me debruçar no assunto central, queria só sublinhar a importância do nome Luís no panorama cultural português, para ficarmos todos descansados; pois como poderão comprovar estamos obviamente em boas mãos.
Vejamos: Comecemos com o verdadeiro Luís da literatura portuguesa, o único e inimitável Luís de Camões. Ele quis trabalhar e trabalhou, nem gregos nem troianos foram impeditivos para ele poder fazer, e bem, o seu trabalho!
E que dizer do Luís Filipe Vieira, o senhor que fez da sua vida no Benfica uma espécie de thriller político-financeiro. De empresário a presidente de futebol, não há uma televisão portuguesa que não o tenha entrevistado. Ah, mas claro, o que ele realmente fez pela sua equipa (ou pelas suas contas, não sei bem), só ele e a sua conta bancária sabem. Até acho que o “Luís que quer trabalhar mas não o deixam” se inspirou só um bocadinho neste tal Luís Filipe, na forma como retira mais valências da experiência que vai adquirindo ao longo da vida.
Não podemos, claro, esquecer o Luís Figo, o Luís do futebol. Este Luís é do tipo que não precisa de discursos e vive dos seus feitos passados. Figo não tem medo de jogar. Sabia o que significava “dar o passo certo no momento certo”.
Acho que o Luís Montenegro de tinha muito a aprender com este último Luís, fugindo-me a boca para a verdade. Sem desprezar, se há algo que se pode dizer de Luís Montenegro, é que ele não tem medo de pedir para jogar. “Deixem-me trabalhar!” – lá está, o famoso slogan. Só que quando olhamos para o jogo, vemos que ele está mais interessado em pedir para entrar do que em mostrar como é que se joga. O futebol é um desporto de equipa, Luís, mas parece que no teu jogo o único jogador importante és tu.
Quer dizer… o “Luís que quer trabalhar mas não o deixam” é o homem que tenta levar o país para a política de uma maneira "racional", e nem os desvios “irracionais” nos tempos mais recentes o atingem. Um bom estadista é calculista, só é preciso que o deixemos “trabalhar”. Eu diria que ele prefere um jogo mais direto: no final, ou ganha ou ganha e mesmo quando perde, ganha. Para o tirar do campo terá de ser a ferros. "Perder" tem uma conotação um pouco… nebulosa e estraga os negócios do futuro.
Investigações revelaram que a sociedade de advogados SP&M, da qual foi sócio, obteve contratos públicos significativos, levantando questões sobre possíveis conflitos de interesse. Mas não se preocupem, o "deixar trabalhar" é só mais um slogan - não é bem uma promessa real. Além de que os portugueses devem compreender que o lugar de primeiro-ministro tem de ter mais valias. Senão, seria só uma chatice… e quem quer mais chatices do que aquelas que já tem?
E isto que escrevo é tipo um ato de solidariedade com todos os Luíses. E aqui está o problema: alguém já viu o Luís jogar alguma coisa além de ser ótimo a não responder a perguntas? Ele corre, ele passa, ele distribui, ele reorganiza, ele sabe o que faz… Se todos os Luíses trabalhassem assim, o país não aguentava. É demasiada eficácia! Ou será eficácia de mais, talvez? Ah, Luís, tão simples, tão transparente… tão vantajoso, alegadamente!
Sejamos claros, tal como o Mantorras, a gente tem dúvidas se ele tem pernas para isso. Mas cá está o dilema: o Luís, ao contrário de outros Luíses, ainda não percebeu que o trabalho não é só para ser mostrado.
Sinceramente, isto dá-me vontade de morrer, mas não é por ele ser Luís. É por ele querer renovar a sua licença para continuar no exercício de um alegado conflito de interesses. Nem estou a ver a dificuldade de passar por uma comissão parlamentar de inquérito e ter de ir às eleições, injustamente, de novo. Mas não se preocupem, afinal, ele não tem nada a esconder, nem nada a declarar… até que se descubra algo novo para juntarmos ao rol de conflitos de interesses.
Vamos ver. Será que ele passará a bola para outros Luíses ou será o protagonista até ao fim?